Ai que saudade daqui… Depois da qualificação em outubro sinto que toda minha energia criativa foi direcionada para finalizar o mestrado… e cá estou eu, a dois dias da entrega, com uma vontade enorme de dividir algo que me inquietou estes últimos dias…
Na terça feira estava indo fazer uma entrevista de metrô e reparei uma moça sentada no vagão, comendo tranquilamente um pote de Cup Noodles. Não tô aqui pra falar que achei nojento ou algo do tipo, ou que cup noodles e miojos são horríveis. Mas achei curioso a pessoa estar lá, por volta do meio dia, batendo aquele copo…
Aí me lembrei de um trecho do livro do Santi Santamaria (Cozinha a Nu), onde ele diz que hoje (no caso 2009), as pessoas não gostam de comer. Há aqueles que comem apenas para saciar a fome (provavelmente o caso da moça, que no meio da correira, só teve tempo e dinheiro daquele macarrão), outros tantos apenas para obter os nutrientes e energia necessário (pro povo todo viciado em contar calorias e malhar por horas) e aqueles que só querem mesmo é consumir o significado daquela comida que escolheram (que é onde está a maior crítica do Santi).
Como assim? Oras, como diria meu marido, sabe aquele comedor de salsicha e ovo? Ou seja, qualquer pessoa normal que curte sim suas gororobas, seja porque tá com pressa, morrendo de fome, porque é só o que sobrou na geladeira, ou porque gosta mesmo, e, no dia a dia come salsicha, ovo, miojo, mas que, quando vai ao restaurante, quando resolve escrever sobre comida, falar sobre gastronomia, de repente vira o maior expert sobre o assunto.
Não querido. Você, que come chuchu e arrota peru, não entende nada. Pra falar bem a verdade, nem de comida você gosta. Você gosta de aparecer, falar sobre o que está na moda, ir aos lugares da moda, criticar o que é criticado, procurar defeito onde não tem… e por aí vai.
E pra você, colega, que tá aí inventado um super cardápio pro eventinho que vai fazer pros seus amigos gourmets, planejando como vai fazer aquela super espuma de cupuaçu que você vai servir com seu lindo robalo de Paraty ou o raio que o parta, só te digo uma coisa. Vai se informar. Vai estudar.
Assim como qualquer outra área, gastronomia também é conhecimento. Reproduzir receita qualquer Palmirinha sabe. “Inventar” copiando técnicas e combinações que você viu no blog ou no livro ilustrado de chefinho famosinho idem. Agora ser autêntico de verdade, usando os ingredientes banais, pra isso, precisa saber muito. Não sou entusiasta do cara, mas só pra ilustrar, antes do sucesso da cozinha tecno-emocional, Adriá foi um puta chef clássico, estudou e trabalhou por muitos anos a técnica e os ingredientes clássicos.
Então, todo esse povo que largou o trabalho do escritório, fez um curso de 300 horas, comprou meia dúzia de livros e se intitula chef auto didata, só te digo uma coisa. Que dó.
Eu não tenho pretensão nenhuma em ser chef, quando muito acho que cozinho alguma coisa bem, mas AMO a gastronomia e principalmente estudá-la. E se você algum dia, quiser tentar ser um cozinheiro um pouco melhor que o bando de medíocres auto-intitulados chefs, faça a sua parte. Estude e, o que é fundamental, contribua, dividindo seu conhecimento (mas sem ser chato, com aquele monte de monólogo sobre a tipicidade da castanha de caju do boteco, porque desse tipo de gente, o mundo já tá saturado, ok?)